Um último suspiro me separa do emaranhado de barracas que oferecem produtos capazes de alçar simples mortais a condição de consumidores de grifes internacionais. Imensas sacolas de plástico escondem sonhos de uma parcela da população que se espelha em ídolos tão instantâneos quanto um Miojo, na busca por um estilo de vida só acessível graças aos colegas de profissão do Capitão Gancho. Estou diante do camelódromo.
Uma vez preparado, mergulho naquele universo paralelo, onde a lei do livre comércio é levada às últimas conseqüências. Imediatamente me vem a cabeça aquelas incríveis imagens, misteriosamente captadas, que nos revelam o interior de um formigueiro. Definitivamente estou imerso num formigueiro humano, onde milhares de pessoas questionam a cada esbarrão a famosa lei da física, que garante que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço.
Diferente das pessoas que procuram ali grifes de fama mundial, e diga-se de passagem com nomes impronunciáveis para os próprios vendedores, busco filmes clássicos, vendidos a preço de banana em barracas que repassam o acervo de locadoras que sucumbiram à pirataria.
Não demora muito e minha atenção é laçada por uma estratégia de marketing tão sofisticada quanto uma bolsa Louis Vuitton paraguaia.
- Tááááá tudo em promoção! Só crássicos de Roliude!
Ainda atordoado pelo grito, mas definitivamente interessado na mercadoria,
posto-me em frente a um senhor de aparência simples e sorriso aberto.
- Boa tarde....
- Boaaaaa tarde, amigoooo!
- Não precisa mais gritar. Estou na sua frente...
- O amigo tem toda razão. Pode ficar à vontade, viu? Qualquer coisa meu nome é Charles. Em homenagem ao Chaprin. O amigo conhece?
- Já ouvi falar...
- O amigo tá procurando algum filme?
- Um do Chaplin seria bom.
- Quem?
- Chaprin...
- Ah. Tem O Garoto. Serve?
- Serve. Quanto é?
- Leva mais dois e pega a promoção.
- Que promoção?
- Éééééééée três por quinze!
Minutos depois sou cuspido de volta à rua, com menos quinze reais na carteira e carregando três clássicos do xará do Seu Charles. Sem dúvida, a Roliude é aqui.
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2 comentários:
Hahahaha! Bruno, este texto está ótimo. Tenho a impressão de ver as cenas enquanto leio!! Vai escrevendo que daqui a pouco você terá um livro ótimo... e o melhor.. quem sabe tu também vira um sucesso em Roliude?!?!? É questão de tempo brow!!!!
AHUAHAUHAU
;o)
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